Não estou aqui para falar para você largar o seu carro e nem para dizer que todas as ruas deveriam ser fechadas para veículos motorizados. Também não vou falar que o mundo em duas rodas é 100% lindo – apesar de ser – e nem que você deveria pedalar todos os dias – apesar de ser divertido. Calibre os seus pneus e venha conferir um pouco mais sobre as possibilidades e desafios do ciclismo urbano.
Minha vida em duas rodas
Todos os dias – ou pelo menos nos dias em que a preguiça não é maior do que eu –, pedalo cerca de 25 quilômetros. São nove quilômetros na ida para o trabalho, nove quilômetros para voltar e o resto eu gasto procurando comida na saída do escritório. Desses trechos, cerca de 40% são feitos em ciclovias, 20% em vias compartilhadas e 40% em ruas comuns, com carros, ônibus, caminhões, espaçonaves e carrinhos de controle remoto (dois desses são mentira). E foi com base nessas experiências que eu consegui reunir as informações que estão nesse texto.
Quais são os desafios?
Como você já deve ter reparado, as grandes cidades ainda estão sendo modificadas para se adequar à alta demanda de bicicletas. Enquanto diversas cidades da América Latina, da Europa e da América do Norte já estão com as malhas cicloviárias em fase avançada, por aqui ainda estamos pedalando com rodinhas nesse mundo. Por isso, como não podemos pedalar apenas em ciclovias e como as calçadas são para pedestres, não para bikes – temos que ir para a rua.
E é na rua que surgem os grandes desafios. As faixas são destinadas aos carros, por isso os ciclistas precisam pedalar nos bordos das pistas, o que também não é uma tarefa tão simples quanto parece. Bueiros com tampas quebradas, grandes buracos, portas de carros sendo abertas repentinamente e pedestres que saem da calçada sem olhar são apenas alguns dos obstáculos.
Apenas para citar um outro exemplo, não são poucos os carros que decidem “tirar uma fina” de quem está pedalando e isso não é nada legal. Pois é… Os veículos são um desafio à parte neste trânsito, pois alguns motoristas ainda insistem na ideia de que as bicicletas não merecem espaço – e a foto que está um pouco acima mostra que pessoas com essa ideia não são tão difíceis de serem encontradas.
Também é bem importante dizer que andar de bicicleta é uma atividade física. Isso significa que é preciso de um certo preparo para distâncias maiores. Se você vai para o trabalho ou para a faculdade pedalando, sugiro que leve uma roupa extra para não passar o dia todo com a mesma camiseta que está cheia de suor do caminho.
Tá chovendo, e agora?
Fora isso, também existem os grandes “desafios climáticos”. Se você vive em uma cidade com o tempo instável – como é o caso do curitibano que vos fala –, deve saber muito bem do que estou falando. O frio torna qualquer pedalada mais difícil. A chuva então, nem se fala. É chuva que vem de cima e chuva que vem debaixo, porque carros e o pneu da sua própria bike jogam água no rosto durante o tempo todo.
Um bônus nos desafios é percebido por quem usa óculos. Quando chove forte, não existe o que faça um míope-astigmático conseguir enxergar direito – porque com óculos existem gotas e sem óculos existe um mundo embaçado pela frente.
Ser pró-bikes é ser anticarros?
Logicamente não! Muitos dos ciclistas também dirigem carros e isso inclui o autor deste texto. Ciclistas (em sua maioria) não querem que as ruas sejam destruídas para que sejam construídas apenas ciclovias ou ciclofaixas – mas elas são bem importantes em grandes avenidas. Eles querem apenas que exista uma melhor convivência entre todos os tipos de modais de transporte. Há também – é claro – ciclistas que são contra os carros, mas é bom deixar bem claro que essa não é a regra.
É possível haver uma convivência harmoniosa entre as partes? Sim! E isso é vital para que o trânsito não seja transformado em uma guerra perigosa no cotidiano das grandes cidades – para que não digamos “mais perigosa”. Um ciclista pode ultrapassar um carro sem incomodar o motorista. Um motorista pode ultrapassar uma bicicleta sem ameaçar quem está pedalando. Basta que exista respeito e que as partes não contribuam para o aumento do “ódio entre grupos”.
Não é difícil fazer com que isso aconteça, por mais que pareça. De um modo bem resumido, tudo o que precisa ser levado em consideração são duas rápidas e simples regras. A primeira delas é: “O maior cuida do menor!” e o motivo para isso já foi dito algumas milhares de vezes pelo Tio Ben. A segunda é: “Ninguém é o dono da rua”.
E para quem acha que só os carros merecem espaço por questões tributárias, é bom lembrar que isso está errado. Todo mundo paga imposto para circular – e apesar de as bikes não pagarem IPVA, todos os componentes são taxados com porcentagens maiores do que as vistas nos impostos de carros populares. Vale dizer também que o dinheiro para a engenharia de trânsito não vem apenas nos impostos veiculares.
Dicas para quem tá começando
Nos últimos anos, cresceu bastante a procura por bicicletas como meio de transporte diário. Mas é preciso saber que a dinâmica do trânsito é bem diferente da vista em parques e outros ambientes tranquilos. Por isso, abaixo desse parágrafo eu trouxe algumas das dicas mais importantes para quem está começando a pedalar nas ruas:
- Trace rotas que fujam de avenidas muito rápidas
- Conheça bem os caminhos que irá percorrer
- No início, opte por horários com menos movimento
- Para pedalar à noite, use luzes e sempre seja visto
- Na rua, não se desespere perto de carros e veículos maiores
- Caso esteja preocupado, pare no bordo da pista e espere o fluxo passar
- Se for para a calçada, desmonte e empurre sua bike
- Nunca force seus próprios limites enquanto estiver no trânsito
- Nunca “ache que dá”… Só faça o que tem certeza que é possível
Respeitem os bicicleteiros
Assim como ciclistas exigem respeito dos motoristas, também é preciso que os ciclistas respeitem os outros ciclistas – e também os bicicleteiros… Sabe aqueles caras que usam bikes para entregar galões de água e botijões de gás? Aqueles que usam bicicletas para carregar máquinas de cortar grama e outros materiais de trabalho? Eles também merecem usar as ruas e devem ser respeitados.
Fonte: Mega Curioso